quinta-feira, novembro 03, 2011

Correntezas (10)


Escrever

 
Recriando sentimentos,

que me brotam da alma

desalinhadamente

Sobre um papel

construo frases

frias, quentes....

amargas, doces...

desfazendo ilusões.

Libertando sentidos...

E posso ser tudo...

um pássaro, uma folha,

um amor, uma dor.

Desbravo caminhos

reparo veredas

desfaço-me

refaço-me

com a ponta dos dedos

E como escrevo

as letras faíscam

as palavras são chamas

que me incendeiam

e desfazem na cinza

que o vento vai levando

Cheias de Lisboa 1967


Cheias de Lisboa 1967

Talvez a primeira tragédia de que tomei consciência. Apesar das notícias sempre negadas havia qualquer coisa que nos angustiava e pela primeira vez teria tido a noção de vida e morte.


Margens (20)


Licença de condução de velocípedes

A minha primeira licença! Justamente habilitva-me a conduzir bicicletas a pedal!! Não bastavam as esfoladelas para aprender a equilibrar-me em cima das ditas, também precisava de licença para as montar!!!

Margens (19)


A primeira comunhão

Num país cujas tradições católicas muitas vezes se sobrepunham á vontade da família, ou seja fazia-se porque todos faziam, este era o corolário de anos de catequização em que o prior era visita assídua da escola, apontando os caminhos da fé.
Como não podia deixar de ser ei-lo aqui pujante na foto: Francisco Saramago. Acompanhou-me nas mais variadas fases da minha vida e por isso foi marcante para mim. Duro como só os bons sabem ser. Ficou famosa por aqui a sua frase:"para mim vale mais um homem cem por cento homem,que um católico de meia tigela".

Margens (18)

Escola 2
Escola Comercial de Rio Maior
Estabelecimento de ensino resultante da vontade dos comerciantes riomaiorenses, essencialmente a pensar nas “elites da vila”, acabou por ser o meu primeiro contacto com uma realidade completamente desconhecida e inesperadamente agreste. O choque foi enorme e de aluno brilhante, porque usava brilhantina julgo eu, passei directamente a sofrível, para não dizer inapto, que vinha da aldeia. Tempos difíceis.

Bordaduras (5)

Sulcos

Neste rio que me sulca correm águas límpidas e tranquilas, também águas turvas e revoltas. Há quem goste de mim quando estou calmo e sereno, mas também quem goste de me contemplar quando galgo as margens e levo tudo por diante. Há quem me navegue para alcançar a outra margem e também quem prefira ficar em terra firme. Há quem em mim busque a paz de uma barragem e quem procure a adrenalina das quedas d’água. Provavelmente há quem goste de escutar as melodias que nas minhas margens trinam, mas há também quem aprecie o meu silêncio. Mas deste rio que em mim corre, que as margens aprisionam e que a foz libertará, algo vai ficando…há quem entenda e quem não queira saber…