sexta-feira, setembro 30, 2011

Margens (16)

A minha escola
Alunos

Ao tempo éramos trinta e oito no edifício da velha escola distribuídos por quatro classes. Uma só professora, sem auxiliares, nem "escola segura" e seguramente estávamos bem. Volta não volta um ou outro ficava uma manhã ou uma tarde a ver passar os carros com umas orelhas de papel enormes. Havia a cana da Índia e menina de cinco olhos e tudo prosseguia na paz do campo...sob o olhar atento do Salazar e do Carmona.


Margens (15)

As primeiras letras

Eram 2,5 km percorridos a pé. Livros numa sacola, almoço numa outra e lá íamos com a chuva, o frio, o calor, a ventania por companheiros. Criados no mato, era também a nossa primeira sociabilização, ou em linguagem do tempo, aprender a ser homem.

Eusébio


Eusébio
O pantera negra
O ídolo do futebol naqueles tempos ou melhor de todos os tempos. Os tempos onde o "amor à camisola" não era palavra vã. Eusébio o melhor de todos

quinta-feira, setembro 22, 2011

Margens (14)

Matança do porco

Governo da casa para o ano inteiro, o porco era preponderante nos meios rurais. Dia geralmente de festa onde se reunia a familia mais chegada e tudo ajudava no aproveitamento do animal. Nada se perdia,tudo se aproveitava. Sem frigorificos nem arcas congeladoras , o sal era o conservante natural. Não havia também asaes, nem outras merdas para além da "guarda da Marmeleira" mas que se dedicava mais a multar cabreiros e a fiscalizar carroceiros. Assim os porcos iam morrendo e o povo sobrevivendo...por entre alegrias e tristezas

Correntezas (9)


Em mim

Há em mim um rio que corre

Uma corrente que me arrasta

Uma barragem que me enlaça

Uma montanha que me enfrenta

Há em mim a fragilidade da vida

Um abismo que me tenta

Um barco que me navega

Um escolho que me atormenta

Há em mim a força da água

O destemor do horizonte

O atravessar de uma ponte

O desejo de uma fonte

Há em mim um brotar de energia

A nascente da alegria

A correr pelo dia

A noite que me apazigua

Há em mim uma foz que me anima

Que me faz galgar

Que não me deixa parar

Que me promete chegar

Há em mim um rio que corre…


Foto: Rio Zêzere a jusante da barragem de Castelo de Bode

sexta-feira, setembro 09, 2011

Margens (13)

Vindimas

Agora que o tempo delas se aproxima, a recordação das vindimas na década de sessenta. Talvez porque desde tenra idade me plantaram no meio das cepas que sempre detestei tal tarefa, embora aqui pareça bastante decidido a dar trabalho à tesoura, ou seria em fugir dela?

quinta-feira, setembro 08, 2011

Sport Lisboa e Benfica


Sport Lisboa e Benfica
O Glorioso

Ao tempo o que ganhava tudo ou quase tudo e assim fiquei adepto desde pequeno. Por mais tinta verde que a familia me "arremessasse", definitivamente o encarnado era a minha cor de eleição. E ao longo da vida podemos mudar quase tudo,menos de clube. Visto a muitos anos de distância penso que foi uma maneira de sobressair no imenso verde que me cercava...e continuou a cercar pela vida adiante

Margens (12)

Marinhas do Sal - Rio Maior

Algures na década de sessenta a safra do sal era actividade complementar dos agricultures nesta área do concelho de Rio Maior. Nestas salinas buscavam o sal a generalidade dos habitantes do concelho para a salga do porco,abatido próximo do natal e que durante o ano era cevado com as mais diversas e "biológicas rações". Era assim o "governo da casa". Havia,há, um ditado que incide sobre o assunto que era usado quando se via alguém, triste,  cabisbaixo: "olha que não tem porco para matar, nem o matou".

Correntezas (8)

Vida

Trepidante,

oscilante

entre ter tudo

e não ter nada

Um dia, passo curto

outro dia, passo solto

apressado, estugado

Corro atrás do tempo

tropeço, caio, levanto-me

Entre uma e outra coisa

nem chego a pensar

tal a pressa de chegar

Mas de repente

o passo curto, travado

pensado, repousado

Canso-me, não de correr

mas de tanto pensar

E penso,

nesta vida cansada

tantas vezes prevista,

outras tantas inesperada,

mas sempre vivida!


Bordaduras (4)


Dias de chumbo

Dias de chumbo, dias sem história e sem histórias que se arrastam numa sequência que parece não ter fim.

Por vezes uma nesga de cor irrompe, mas logo sucumbe ao peso de um cinzento forte que tolda a vontade e embrutece o querer.

Lutar com o chumbo grosso dos dias, mais não é que gesto quixotesco, isto é quebramos as lanças mas não conseguirmos parar a marcha do tempo.

Viver dias de chumbo é arrastar-nos pelo tempo, sem tempo para nada e tempo para tudo. Sem nada para fazer e com tudo por fazer. Mas nestes dia de chumbo que interesse pode resistir se tudo acaba num cinzento carregado/chumbado…